Teresa estava com as contas em dia e a casa arrumada.
Foi então que decidiu ir ao restaurante da esquina depois da igreja. Ela era de um tipo pós-moderno de Igreja Calvinista Católica.
Aos vinte e ela nem se importava o quão era jovem, tinha um noivo, ou amigo, quase viril, quase rico, quase bonito, mas educadamente bem colocado numa roupa engomada, assim como ela. Um casal desses que foge da solidão na paz do Senhor. Tinha lá sei quantos empregos sempre que podia, ora, era um exímio empregado, servo quase cristão, ou seja, tinha que trabalhar nos sonhos dos outros depois da oração. Mas essa noite era especial, com ou sem ele, ela não iria cozinhar.
Teresa era uma dessas quase freira, quase protestante, numa vida equilibrada entre o algo e o nada. Ela escutava todos os sermões. Vivia com o dízimo em dia na igreja, e o pão-nosso-de-cada-dia na mesa, jurava que uma coisa tinha a ver com a outra. Nos finais de semana ajudava as crianças carentes, e fingia não ser uma quando saia sorrindo para o restaurante.
Sabe, de todas as coisas que Jesus nos ensinou a mais importante foi...
Ou não sabe?
Quem sabe...
Talvez não importe. Talvez ele só tenha dito que a vida é só um meio, e não um meio-termo daqueles que sobrevive na esperança de um fim definitivo e infinitamente feliz. Ou talvez ele tenha ficado calado quando o perguntaram: Afinal, o que é a verdade? Messias, louco, homem, Deus, uma mentira, um exemplo: Fosse lá quem fosse, assinou seu nome com força imensurável nas linhas da História.
Nunca ninguém gritou tão alto para tão poucos escutarem bem, de que planeta era ele? Que língua falava? Ou, por que falam tanto por ele?
E hoje eu vejo Teresa, sobrevivante, magra como não deveria ser, que antes de sair de casa pega a Palavra na mão, e, como se fosse a pessoa mais esperta do mundo, esconde o seu dinheiro dentro de tal livro pensando: Vou enganar o ladrão.