Uma mulher vivia só,
numa casinha,
no sertão.
O nome dela também era Maria.
Ela rezava todo dia,
ave-maria,
ave-maria...
E que Deus tenha piedade.
Buscava água todo dia.
Ela já não se importava,
buscar água,
todo dia.
Ela já não se cansava,
todo dia.
Ela uma vez teve um esposo,
ainda guarda uma foto,
antiga, embaçada,
pendurada na parede,
do lado de Nosso Senhor
e de Nossa Senhora,
que também se chamava
Maria.
Ela não tinha mais ninguém,
mas de sofrer se esquecia.
Acostumou-se ao que vivia,
e só vivia, vivia...
Ela já não sentia a dor
que já sentia todo dia.
E nem sentia o sabor
que já sentia todo dia.
E não mais via a cor da cor
pois ela via todo dia.
Rezava pra Nosso Senhor
sempre a mesma ave-maria.
Ela não via mais o céu,
pensava nisso todo dia,
e seu sorriso era sem graça,
se é que ela sorria.