MINHA INFÂNCIA ESTÁ PERDIDA NOS RECANTOS DO PASSADO
Vendo meu tempo chegar
Com o peso que a idade deu
Fico só a relembrar
Do tempo que se perdeu
Do meu brinquedo de pau
Da merenda de mingau
Foi tudo de bom na vida
Isso pra mim é um fado
Minha infância está perdida
nos recantos do passado
Correr praquela casinha
De taipa e porta aberta
Tão singela e pobrezinha
Era de palha a coberta
E Mãe Véia carinhosa
Me abraçava calorosa
Isso sim é que era vida
Tanto eu tenho recordado
Minha infância está perdida
Nos recantos do passado
Sentir o primeiro amor
Estribuchando no peito
E ouvir um cantador
Cantar ele com seu jeito
Eu penso, penso e me calo
Por não saber o que falo
Sinto doer a ferida
E passo um bom bocado
Minha infância está perdida
Nos recantos do passado
Esse amor que é de criança
Não tem nada de maldade
Tem apenas a esperança
Por causa da pouca idade
Faz com que o coração
Dê aquele “puxicão”
E a voz fique tremida
Na frente do ser amado
Minha infância está perdida
nos recantos do passado
Meus irmãos nas brincadeiras
No terreiro lá de casa
Correndo nas capoeiras
Parece que tinham asa
Ninguém pensava em riqueza
Nem sabia de pobreza
não nos faltava um bocado
nem na volta nem na ida
minha infância está perdida
nos recantos do passado
Papai mamãe na labuta
Levavam uma vida dura
Verdura, legume e fruta
Macaxeira e rapadura
Tudo eles cultivavam
E nada faltar deixavam
Cada qual no seu traçado
Viviam naquela lida
Minha infância está perdida
Nos recantos do passado
Chegando a vez da escola
Meu primeiro aprendizado
Com os livros na sacola
Ia a pé ou montado
E a primeira professora
Para nós uma dotoura
Exigia o resultado
Sendo sempre bem ouvida
Minha infância está perdida
Nos recantos do passado
Mudando para a cidade
Pra mim o baque foi forte
Pois sem dó nem piedade
Em tudo sofri um corte
Pois se muito aprendi
Muita coisa eu perdi
E assim eu fui moldado
Seguindo aquela batida
Minha infância está perdida
Nos recantos do passado
Mais o mundo anda pra frente
Tudo ficou para traz
Eu guardo em minha mente
O que não volta jamais
Os anos vão me chegando
A saudade vai ficando
Como um espinho enfiado
Na alma amarga e sofrida
Minha infância está perdida
nos recantos do passado
hoje adulto, homem feito
cuido da minha família
posso bater no meu peito
porque na minha cartilha
meus filhos andam correto
e aminha esposa por perto
andando sempre ao meu lado
a lição foi aprendida
eu só tenho a minha vida
por causa do meu passado