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O Ócio Produtivo
 
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 Um homem grandiloquente

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João Barbosa




Mensagens : 67
Data de inscrição : 14/10/2009

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MensagemAssunto: Um homem grandiloquente   Um homem grandiloquente Icon_minitimeQua Out 14, 2009 10:11 am

Um homem grandiloquente

Ivanilson nasceu numa cidade do interior, chamada Jaboatão do Imbiopoque. De onde viria o nome desse lugar é questão para os mais tenazes historiadores; esse não é nosso propósito. Vamos ao que nos interessa.
O nosso herói pertence à uma família de grande pobreza, material e de espírito. O pai, violento, bêbado e estúpido. A mãe, mole, displicente e preguiçosa. Tinham onze filhos. Todos eles herdaram as características dos genitores, com exceção de Ivanilson.
O corajoso menino queria mais do que aquilo. Queria deixar a miséria, a ignorância; queria ser doutor. Estudou debaixo das pancadas do pai e das chacotas dos irmãos. Conseguiu seu intento: ganhou uma bolsa de estudos no Rio de Janeiro, e foi, contra a resistência dos outros, que queriam afundá-lo na mesma mediocridade que lhes era tão própria. Foi embora ganhar o mundo.
Chegando à universidade, agarrou-se aos livros. Viajou pelas páginas dos grandes gênios da humanidade. Desbravou mares da linguagem, dos números, das teorias.
E Ivanilson se tornou um erudito. Mostrava uma inteligência ampla; uma gama de conhecimentos que abrangiam todas as áreas. Virou professor, lançou livros, viajou pelo mundo, ganhou respeito.
Apesar de todas as conquistas, o coração do Dr. Ivanilson nunca abandonou a pequena Jaboatão do Imbiopoque. Resolveu voltar.
Na semana seguinte à resolução, pegou um avião em direção a uma cidade próxima a Jaboatão, já que, obviamente, não havia aeroporto na cidadezinha. Descansou num hotel e na manhã conseguinte pegou um carro rumo ao município.
Entrando pelo vilarejo, não sabia onde encontrar sua família, então resolver pedir informações a um velhinho que estava sentado na calçada de casa.
- Boa tarde!
- Boa!
- Honrado ancião, podes corroborar minha proposição de que meu progenitor, Antônio Lino, e sua comunidade familial, constituída por minha mãe, Josefa Lino, e meus consangüíneos, ainda coabitam na chanura ao fim deste complexo demográfico?
A pergunta deixou o velho confuso. Estaria caçoando dele ou falando outro idioma?
- Hein?
- Senhor, inquiro-o quanto a vossa ciência do estado hodierno de Antônio Lino e seus domésticos. Agradecê-lo-ei sobremaneira pelo informe.
O velho aproximou-se fazendo uma concha com a mão sobre o ouvido.
- Como é?
Ivanilson julgou que fosse surdo, e achou melhor não incomodá-lo mais. Desculpou-se pelo aborrecimento e tocou o carro adiante.
- Ô Maria!
- Que é?
- Tu sabia que tem alemão na cidade?
O sábio avançou poucos metros pelas ruas batidas de Imbiopoque, até o celular chamar; era do hotel. Haviam chegado uns papéis da faculdade que precisavam urgentemente de sua assinatura. Antes de vir prometera a si mesmo afastar-se do trabalho, mas não pôde: era alguém importante agora.
Voltou e cuidou do que tinha de cuidar. Notando a tardança da hora, recolheu-se, tomou um banho, jantou, leu um pouco de Hamlet (sua peça favorita) e foi dormir. O sono durou o pouco; o seu reitor ligou insistindo no seu rápido regresso. Ivanilson alegou cansaço e estresse, mas o magnânimo foi firme. Prometeu ver o que poderia fazer no dia seguinte, desligou e meteu a cara no travesseiro. Enquanto o sábio descansava seus neurônios, a fama do “alemão” corria por Imbiopoque. Que é que um homem desses faria naquele lugarejo? Encetaram as especulações.
Havia em Imbiopoque um interessantíssimo personagem. Chamava-se Agripino, um maluco que morava isolado num sítio pelos fins da cidade. Ivanilson foi seu vizinho de cerca na infância; nesse tempo, Agripino era um homem normal, ocupado com a lida da roça, casado e pai.
Algum tempo depois de Ivanilson mudar para o Rio, ele começou a afirmar, veementemente, que suas terras estavam minadas de petróleo. Essa constatação advinha de um sonho em que seu avô contava sobre a existência do tão precioso óleo. Homem crédulo como era, ainda mais quando se tratava de espíritos e família, não titubeou em sair contando o fato. O caso gerou rebuliço no vilarejo, mesmo sem nada ser comprovado.
Depois de um tempo as coisas esfriaram e, por nada poder provar, ficou desacreditado por todos. Ganhou o título de doido e um apelido maldoso: Seu Patinhas, em relação à riqueza de um e aos desvarios do outro. A mulher o largou, os filhos trataram de ir junto e o Patinhas passou a viver sozinho na fazendola, cada vez mais convencido da certeza de suas palavras.
Durante todo o disse-não-disse, Agripino teve um aliado: Antônio Lino. Em Lino poderia haver tudo, menos amizade. Tratou de ajuntar-se a ele porque sabia que poderia levar algum, e levaria se existisse mesmo o tal petróleo. Pleiteou em favor do “amigo” com paixão; quando percebeu que nada ia acontecer, largou-o à própria sorte. Acabou por ficar mais conhecido que o Patinhas; ruim não é ser doido, é escutar o que um doido diz.
Ivanilson não conhecia o atual estado da mente de Agripino, mas sem saber, reacendeu por uns instantes a antiga conjuntura. Acontece que o filósofo cedeu à pressão da universidade e voltou ao Rio para tratar de assuntos inadiáveis. Enquanto isso os pensamentos dos imbiopoquenses direcionavam-se a fazer a conexão entre o “alemão” e o sua personalidade mais fantástica: Agripino. É óbvio estava lá por causa daquilo, o que mais? A procura por Lino (uma das únicas coisas que o velhinho conseguiu distinguir do complicado dialeto do alemão), sem sombra de dúvida, reforçava a asserção.
A história chegou aos ouvidos de Lino, que reluzindo de satisfação, voou para contar a novidade ao parceiro de causa.
- Ô Gripim! Vem cá!
Agripino estava dentro de casa, recurvado sobre a cama quando ouviu o chamamento. Olhou para peixeira enfiada num amarelecido queijo sobre a mesa. Teve ímpetos instantâneos de puxá-la e matar aquele infeliz assim que passasse pela porta. Enfraquecido, como desde quando havia endoidado, não teve forças para agir; moveu-se lerdamente até a entrada e abriu.
- Ei home! Vem um alemão aí olhá teu sítio. Tá vindo atrás do petróleo!
Os olhos mortos de Agripino fitaram o visitante.
- Lino.
Parou olhando um tanto reflexivo.
- Vá pra puta que o pariu!
- Gri…
- Ói, ói, tá vendo o que isso fez comigo? Falou dando tapas no próprio corpo - pega esse petróleo e enfie na bunda!
Bateu a porta bufando de raiva. Essa história de novo! Ela destruiu a vida daquele miserável, tudo o que queria era esquecer, e este maldito vinha na sua casa tentando reacender o fogo daquela esperança nociva. Cachaceiro dos infernos!
- Gripim… Abre!
Pensou no punhal mais uma vez. Novamente não teve energia para agir.
- Bora home!
A solidão em que vivia aumentou-lhe a curiosidade. Uma novidade, mesmo que dolorosa, ganha outro sabor quando se não tem nenhuma há muito. Debateu-se na dúvida de curvar-se ao impulso ou não por segundos, até não mais resistir. Abriu a porta.
- O que é?
Lino pôs-se a contar o que sabia da história, que se esperava ser muito, já que o povo de Imbiopoque não perdeu a oportunidade de aumentar o quanto foi possível. Sorria muito, dava saltitos com seu corpo velho e magricela, mostrando o mesmo ânimo ambicioso que demonstrava na primeira vez que se envolveu com naquela trama.
Patinhas tinha saído do estado de fúria. Escutava agora imóvel, como um zumbi, sem nenhuma reação aparente.
- E aí? Falou Lino terminando o monólogo.
- E aí o quê?
- Vai procurar ele?
- Não.
- Ô home! Quer morrer como um doido?
- Se ele vier, eu falo com ele. Se não, deixa pra lá.
Virou as costas e se recolheu à cozinha.
- Gripim!…
Voltando de viagem, Ivanilson pousou por apenas uma noite no hotel. Logo pela manhã pegou o carro que alugara com antecedência e rumou à Imbiopoque. Dessa vez foi mais rápido, chegou por volta das dez ao vilarejo.
Indo cidade adentro, o carro causou interesse dos moradores, que só raramente viam automóveis como aquele; estavam mais acostumados com as velhas caminhonetes dos agricultores. Rápido perceberam de quem se tratava:
- É ele!
As pessoas se espremiam nas janelas para ver; os moleques mais atrevidos começaram a correr atrás do veículo e Ivanilson, sem nada compreender, acenava sorridente para os observadores.
Não fez perguntas, foi direto ao antigo sítio, esperando poder reencontrar sua família. O tão coração puro do doutor tinha agora a esperança se ser entendido, amado do jeito que era, mesmo sendo tão diferente deles.
Lino, em casa, recebeu rápido de um menino a notificação da presença do alemão, e voou para buscar o Patinhas, que inerte como sempre, só moveu-se após os puxões que o interesseiro lhe deu no braço. Alargaram o passo para chegar à praça, mas não conseguiram avançar muito. Pararam na estrada ao divisar de longe o carro do alemão.
Ivanilson avistou a figura envelhecida de seu pai. Mesmo com a distância, pôde reconhecê-lo perfeitamente. Era ele! Seus olhos encheram-se de lágrimas, mal conseguiu se conter. Acelerou o carro e quando chegou perto, estancou brusco, pulando de dentro do veículo:
- Pai!
Os dois ficaram confusos. O estrangeiro pulou nos braços de Lino, agarrando-o com força e beijando seu rosto o quanto era possível.
- É teu fi? Perguntou Agripino.
- Deve de ser um jeito dos gringo se apresentá.
Ivanilson escutou a resposta e acudiu logo:
- Não pai, sou eu, Ivanilson! Desde longínquos tempos tenho posse do anseio de ver-te. Como estás?
- Nilsin? Que história é essa?
- Sou eu, não me reconheces? Há muito transferi-me para as terras do corrente do primeiro de Gregório, para cursar pelas veredas das idéias, destarte, regresso hoje a fim de visitar-vos.
- Vei atrás do petróleo?
Ivanilson não conseguiu entender a pergunta. O pai não expressou reação alguma além do primeiro espanto, e agora esse negócio de petróleo. Na verdade, o pai entendeu bem pouco do que disse.
- Não.
- Então vai embora, tu ficou foi doido nesse tal de Grergório.
Virou as costas e tomou o caminho de volta, acompanhado por Agripino. Ivanilson ficou olhando os dois. Só então percebeu que nunca seria compreendido por nenhum deles.
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