A professora

A professora

Sempre coroei a Matemática como a mais maçante das matérias. Não que a Química, a Física e a Biologia não me fizessem inchar de insatisfação, mas contra ela eu tinha um ódio especial, por ser a base das outras. Pensava que os números nunca possuiriam a mesma graça e beleza das letras. No entanto, eles guardavam para mim uma grande surpresa em meio à mecânica de suas operações. E nada mais agradável do que uma surpresa feminina, principalmente quando se está naqueles anos em que os sonhos são mais reais que a própria realidade.
De início, não conseguia conceber qualquer compatibilidade entre o fogo de sua sensualidade e a frieza das equações. Seria uma boa - sem maldade na palavra - professora de Literatura, expressando em si toda a sexualidade animal naturalista - pelo menos era o que eu desejava ardentemente. Não sendo, tratei de conformar-me e voltar minha atenção àquelas aulas que detestava, óbvio que não pelo estudo, mas apenas para ouvir a voz que, sem saber, embalava meu sono, e mirar o corpo que fazia interessantes minhas idas ao banheiro e as noites trancado no quarto. Tentava, sem cessar, arrebatar um pouco da atenção dela para mim e conseguia, por pequenos instantes. Como eram bons esses momentos! O hálito quente no meu rosto, acompanhado da voz melodiosa que respondia a dúvidas que nunca tive faziam-me viajar.
O ano em que fui aluno dessa mulher foi maravilhoso, porém, para meu desespero, acabou. Restou só a esperança de, no próximo, tê-la novamente em minha sala. Foi o que aconteceu. No outro ano encontrei-a revestida da graciosidade habitual. Só que agora, havia outra pessoa que fazia parar minha atenção: uma menina, que logo no começo das aulas pôs-se a sentar do meu lado. Fiquei dividido entre o sonho e a realidade, a fantasia e a concretude, pois com aquela garota tinha contatos tão íntimos! Acontece que já estava ficando homem, não podia mais viver de ilusões, e aquele empirismo prazeroso me arrastava, puxava com força… Não resisti, joguei meus devaneios fora e fui viver a vida. Casei-me com a menina da cadeira ao lado, ainda sonhando em ter a bela professora na minha sala do próximo ano.