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O Ócio Produtivo
 
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 Mais capítulos do romance

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AutorMensagem
João Barbosa




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MensagemAssunto: Mais capítulos do romance   Mais capítulos do romance Icon_minitimeSeg Mar 08, 2010 10:06 am

Escravidão

O balanço mensal se efetuava com rigor. O dono da loja queria saber exatamente como andava o funcionamento de sua empresa. Um sujeito severo. O rigor dava-lhe um ar superior, algo que Alberto admirava muito. Na verdade, queria ser como ele, dando, às vezes, alguns impulsos de atitude contratantes com sua posição de subalterno, posição vencedora de conceitos organizacionais, dominadora de grande parte de sua psicologia.
Como gerente, Alberto sustentava encargos e poderes maiores que os dos colegas. Responsável pela equipe e principalmente, pela preciosa caixa registradora, levava os carões do chefe quando problemas apareciam, mas podia também mandar e sentir-se um pouco mais perto do ídolo. Descaía o ânimo por levar rachas; colocava-lhe de novo no seu lugar. Contudo, aguentava pelo bem da família.
- Você vai ter que me entregar o balanço hoje, o mais rápido possível, recebeu a ordem pelo telefone.
- Já são seis horas, nós trabalhamos o dia todo. É melhor deixar pra amanhã. Tentou convencê-lo desconvencido de que fosse possível.
- Não, quero hoje. E desligou o telefone.
O funcionário fungou e dirigiu lento alguns impropérios contra o patrão. O fez em silêncio; podia haver bajuladores por perto, prontos para entregar qualquer palavra imprópria. Apesar de tudo, cobiçavam seu cargo.
- Pois é pessoal, vamos ficar até mais tarde hoje, comunicou aos outros voltando da sala interna.
- Ah! A resposta instantânea brotou nas bocas da equipe.
Voltou para dentro da sala e ligou para a mulher a fim de dar o aviso. Finda a ligação, retornou ao trabalho.
O cansaço dava toneladas a cada papel passado pelas mãos. As perguntas frias de um a outro ajudavam a tornar o ambiente desagradável. E vinha a dúvida se pagava a pena trabalhar contra a vontade, mas só por um pouco, fraquinha e desinteressada. Se não baixasse a cabeça, que daria de comer aos filhos? A casa, o carro, as prestações, os passeios dos fins de semana dependiam dele. Como marido e pai, deveria segurar a barra. Ser tratado como escravo, trabalhar sem querer; sua responsabilidade de homem. Baixar a fronte para não descair o pênis.
Precisava tanto? Será que não podia arranjar outro emprego com a formação que tinha? Será que não tinha talento nenhum? Viver na mediocridade do “sim” eterno; homem não aguenta isso não, mesmo que seja para cumprir com seus deveres: arranja outro jeito. O patrão nunca suportaria. Já não era mais homem, nem seria o patrão, e se encolhia e envergonhava por isso.
Terminou o trabalho com ufas! vindo de todos. Mandaram-no por e-mail. As despedidas cansadas e sem graça tocaram-se na pressa de ir embora. Alberto pegou o carro cabisbaixo, derrotado como todos os dias.
Quando chegou, a mulher assistia televisão na sala. Preferiu passar sem falar com ela. Entrou no quarto, tomou banho, vestiu o calção de dormir, comeu alguma coisa na cozinha e foi à cama. Tentou entrar no sono rápido. Dormir é o melhor remédio para tudo.
- Dorme, filhinho, que a vergonha passa.
A esposa percebeu todo o movimento metida no sofá, fingindo assistir televisão, na esperança de que o marido fosse lá olhá-la, lhe pedir perdão pela despreocupação com que a tratava, entregar sua culpa, implorar por absolvição; ela o perdoaria, apertaria seus lábios contra os dele num beijo antigo, sugando as alegrias da renovação. Mas ele não foi.
Sentiu-se ofendida, contudo, a injúria doeu pouco, porque o orgulho não podia prevalecer sobre o sentimento mais forte da nostalgia, a ideia do desaparecimento das coisas que se ama tanto. Entrou no quarto e viu-o dormindo pesado. Dormiu sem nenhuma palavra dirigida a ela. Angustiou, o peito gemeu expulsando as lágrimas pelos olhos. Deitou-se ao lado dele. Quando as coisas iriam voltar?
O dia amanheceu. Alberto acordou com o barulho das panelas batendo no fogão:
- Bom dia! Lúcia introduziu de sorriso nervosinho. Vai querer pão assado? Tem uns prontos na panela coberta. Tem suco de laranja na geladeira.
- Você acordou que horas?
- Cedo.
Movia-se inquieta, as mãos tremiam de leve. Olhava fixamente para o que fazia, dando sorrisos irrequietos, soltando palavras desconexas referentes ainda ao café da manhã. Alberto se aproximou:
- Para, falou pondo a mão sobre o pulso da mulher que segurava a frigideira. Não fiz nada ontem; não dessa vez. Confie em mim.
- Como você quer que eu confie em você se sempre tem esse “não dessa vez”?
- Nunca mais. Abraçou-a num enlace apertado.
Fez força para se soltar do aperto. Cedeu, chorando.
- Por que você faz isso? O gemido saiu no meio do pranto.
- Não vai mais acontecer. Eu prometo.
Silencioso, o abraço continuou.
- Os meninos, afastou a mãe o marido com os braços, lembrando que o mundo rodava independente de suas dores.
- As coisas vão melhorar, tá? Alberto fechou a conversa com a repetição já inconveniente.
- Tá.
Enxugou-se e foi buscar as crianças para a arrumação. Alberto encostou e começou a comer apressado, mas menos apressado do que nos outros dias, como se sentindo um peso se aliviar das costas, aquém dos temores de ir embora, mais uma vez abandonando a mulher, e desta num momento mais inabitual do que anteriormente.
As crianças vieram molengas de sono e o café foi tomado em família, no começo meio calado, desconfiado, até surgirem uns risos melados de leite, um clima agradável que se instalava. A mãe catou os filhos satisfeitos, levando-os para escovar de dentes e tomar banho. Antes, olhou para Alberto, agora, com um sorriso.
As coisas melhoraram com o passar dos dias. A vida florescia de novo.
- Com anda o trabalho? Perguntou no domingo o vizinho, vendo que Alberto tirava o carro para lavar.
- Na mesma: ganhando pouco, trabalhando feito escravo… - ali ele podia ter mais liberdade para falar.
O vizinho riu e disse para Alberto não reclamar tanto da vida que, apesar de tudo, seu emprego era bom para os padrões do lugar.
- É…
Com todos os apetrechos da lavagem, procurou a flanela para começar. Puxou uma de dentro do balde d’água e notou que não passava de um trapo velho e fino. Lembrou-se de que prometera a si comprar uma nova e se esquecera provavelmente por causa do trabalho extenuante dos dias anteriores.
- Carlos!
O garoto andava distraído pelo quintal, atrapalhando com uma varetinha o trabalho de uma formiga, que tentava carregar um grande pedaço de folha. Dava-lhe uma batida com o pau, então ela tombava a lâmina verde, o menino ria, depois a formiga buscava levantá-la novamente. Quando conseguia, metia novo golpe, o pedaço quedava, ele ria, a formiga se esforçava. Novo golpe… - e se fosse uma formiga? A solicitação do pai despertou-o do êxtase cíclico e ele foi correndo atender ao chamado.
- Hum?
- Compra uma flanela lá na esquina, falou estendendo a mão para entregar o níquel ao filho.
- Oxi pai! Bateu o pé no chão.
- Anda, vai logo!
O menino pegou as moedas à contragosto, esperneio contido e bico pregado na cara. Saiu andando danado, indignado com o subjugo. Uma latinha de refrigerante jogada na rua sentiu o ímpeto de sua raiva no bico que lhe meteu; por que diabo tinha que ir comprar aquilo? O pai não podia fazê-lo? Afinal, o carro é dele; que o cuide ele mesmo. Em casa papai dizia que homem de verdade tem que dar conta de suas atribuições, tratar de seus próprios assuntos, sem que se precise forçá-lo ou mesmo lembrar-lhe de suas obrigações. E que tinha ele haver com o carro? Só porque andava nele? Até gente desconhecida, apenas por estender o polegar no meio da rua, andara também, lembrava-se disso. Nenhum deles nunca apareceu para lavar automóvel algum ou para comprar flanelas.
- Merda! - Tinha de ajudar.
Tinha de ajudar, pelo menos era o que diziam em casa. Todos precisam cooperar para que a casa funcione. Contudo, precisava ser contra a vontade? Ajudava mamãe quando queria; ela não pedia nunca, ele sempre ia com toda disposição, pois a amava, amava-a muito, e também amava ao pai, poderia ir assim que o visse em precisão, sentir-se-ia feliz por auxiliá-lo. Sentir-se-ia homem cumprindo o dever por querer, sem ser obrigado.
A bodega possuía um aspecto sujo, assim como o dono, que entregou a flanela displicente e praticamente arrancou as moedas da mão do guri. O homem dava medo. Deu meia-volta para regressar rápido. O aborrecimento não desvaeceu com a ida; o caminho era curto. Entregou o pano ao pai.
- Agora vá no quintal e ligue a mangueira.
- Eu não sou escravo! E saiu correndo para o mesmo quintal da mangueira.
- Moleque…


Cedo demais

A família estava na casa dos avós:
- Vamos logo Alberto, Gislei deve estar na calçada ainda.
- E que é que tem?
Toninha andava irritada na escolinha. Chamava pela mãe, chorava, gritava, dava tapas nas outras crianças e nas professoras até; coisas compreensíveis, considerando-se seus dois anos e o recente ingresso na escola. Mas as educadoras achavam que aquilo estava se prolongando demais.
Gislei era uma delas. Morava na mesma rua deles e dias antes havia conversado com Lúcia sobre como andava o comportamento da filha, não a culpando, pois seria desplante sem limites reclamar das atitudes de uma menina tão pequena, mas contando somente por informação, além de dar uns conselhos de sua fraca psicologia infantil que achava poder ser úteis, coisas que Lúcia conhecia da cadeira de Psicologia do Desenvolvimento, paga há anos, contudo ainda fresca de certa forma na memória.
- Bote-a pra dormir mais cedo. Mais descansada ela vai se acalmar aqui.
Lúcia ouviu com o orgulho de pedagoga ferido. Já sabia daquilo e sentia-se estúpida tendo de escutar de alguém que considerava igual a ela. Balançou a cabeça afirmativamente com o descontentamento quase aparente no rosto.
Dormir cedo o diabo! Saiu negando-se a obedecer aos conselhos que já sabia. Ora! Estava dizendo que não sabia cuidar da própria filha? Desaforo! Se ela portava-se agitada a culpa era dos educadores incompetentes; arranjaria outro canto onde colocar a filha, um lugar melhor, onde haveria instrutores eficientes, e ela ficaria bem.
Gislei comentara sobre o sono não somente por seu conhecimento do comportamento de seus meio-tutelados. Ela possuía o costume de passar até pouco tarde da noite na calçada, conversando com as vizinhas. Alberto e Lúcia também cultivavam um costume: à noite, às vezes, saiam para visitar os parentes, levando os filhos, e voltavam tarde na maioria das ocasiões. Gislei quase sempre via a chegada da calçada, quando não, a brecha da janela bastava para verificar a vida alheia.
Desde a conversa, era primeira vez que saíam. A ofensa não se esquecera, nem a convicção de desobediência. Mas ela estaria na calçada… E conversando com as vizinhas ainda por cima; certo que comentaria de sua pequena preocupação com a situação da filha, mesmo depois de alertada, causando prejuízos ao seu desenvolvimento por pura displicência.
- Vamos, vamos!
A menina dançava ao som da música posta pelo tio. Tão alegre, rindo não sabia do quê, balançando os braços num movimento avícola, rodando e caindo sentada, rindo. Lúcia aproximou-se e cortou a exultação tomando-a nos braços, levando em direção à porta.
- Vamos.
Despediram-se entre adeuses e bênçãos, então tomaram a direção do carro do lado de fora. A menina enfim percebeu o que acontecia.
- Não mamãe. Muga, muga. Falava apontando para dentro, em direção ao aparelho de som.
- Não, vamos embora.
Começou a chorar. Voltar, a dança, a alegria. Por que estava indo embora? Por que não podia ficar?
Entraram no carro, o pranto não acabou. A mãe embalou-a, ela chorava, se contorcia. Talvez houvesse a esperança de poder voltar se esperneasse, mas estavam longe agora, o carro anda rápido.
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MensagemAssunto: ...   Mais capítulos do romance Icon_minitimeQua Mar 17, 2010 12:06 pm

ela descansada faz eh bater mais nas colegas! xD

ei jesus seria bom tbm dar uma força naquela idade na infancia em q os pais são vistos como heróis...

[e se os pais tivessem fé que seu filho é filho de Deus? Jesus voltaria]
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