A sombra do meu pé uma noite se levantou,
Eu andava distraído,
como quem ama.
Mas eu a chutei sem querer
A lancei num abismo de sofrimento e dor.
Peguei-a no vazio, dei-lhe a forma de gato,
Estava muito doente
Teimei em dar-lhe vida.
De um tempo que eu muito Sonhava,
Dei-lhe um nome de Sonho,
E bem vivo deitou em meu colo,
Como se sua sombra fosse eu.
Na forma de gato cresceu,
Seu pelo negro brilhou,
O que era sombra se arrependeu
E resolveu ser luz, carinho e amor...
Mas veja a vida como é...
Andava eu a contragosto preocupado,
como quem odeia,
E meu gato-sonho-sombra-mágico virou simples bixo,
Amedrontado, levava chutes propositados.
Adoeceu, misteriosa metamorfose,
Fugiu de mim.
Voltou a ser sombra?
Hoje
procurando o amor que havia em mim,
Procuro meu Sonho.
E vejo o meu gato,
Morpheus,
Nas sombras por onde passo.