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O Ócio Produtivo
 
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 O mentiroso

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João Barbosa




Mensagens : 67
Data de inscrição : 14/10/2009

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MensagemAssunto: O mentiroso   O mentiroso Icon_minitimeQua Out 14, 2009 10:07 am

O mentiroso

Começou na infância. Mentir é normal, principalmente nessa fase, mas Pierre sempre apresentou uma habilidade fora do comum para aquilo. Contava histórias incríveis, com uma verdade impressionante.
Os pais não ligaram de início; depois, com o aumento da constância e gravidade dos aleives do filho, trataram de tomar providências severas: ensinaram, castigaram, bateram, mas nada; o moleque não se remendava.
O tempo passava e severidade do caso tornava-se maior. O jovem crescia ludibriando a todos que o cercavam. Mentia para os amigos, parentes, namoradas.
Na verdade, não entendia muito bem o por quê daquilo. Não enganava por lucro, por notoriedade; mentia simplesmente. Gostava de contar inverdades pura e somente, sem querer prejudicar ninguém, apenas pelo estranho gozo do fingimento. Não se pense que não sofria com isso; via a reprovação alheia e sentia-se indigno, porém não parava. Cumpria religiosamente sua sina de enganos.
Os pais, mesmo acostumados com o problema, ficavam sempre incomodados. Acharam uma solução: façamo-lo ator. Sim, falseará o quanto quiser no palco e, com o desgaste da arte, há de normalizar-se.
A perspectiva da nova atividade animou o rapaz. Pensava que encontraria novos amigos; os primeiros o haviam abandonado, por raiva de suas patranhas. Principiaram-se os ensaios. Mostrou-se muito talentoso, foi admirado pelos mestres e colegas, afinal, atuar é nada mais do mentir convincentemente, e isto fazia como nenhum outro.
Os anos correm rápido quando se faz sucesso; o juvenil Pierre viu a vida voar diante dos olhos. Tornou-se um ator famosíssimo, requisitado por todas as companhias de prestígio. Viajava constantemente, pulando de teatro em teatro em suas exaltadas apresentações.
A previsão dos seus pais não se confirmou. A prática artística não curou sua mania, pelo contrário, agravou-a. As histórias acabaram por enlouquecê-lo. Viu nos scripts os mais brilhantes embustes concebidos pela mente humana; sentiu então a necessidade doentia de inventar logros melhores que aqueles. Ser o Rei da Mentira, o único, absoluto.
Pôs-se a pensar na máxima fábula. Encontrou a resposta na colina perto de casa. Saiu a dizer que havia ouro lá.
O primeiro que ouviu isto foi seu empregado, Juliet.
- Ouro?
- Sim, não te digo. Eu mesmo vi.
- Meu senhor, tem certeza?
- Vamos. Te mostro.
Foram os dois para o outeiro. Juliet era um empregado novo, não conhecia o problema de seu patrão, ademais, a vida ensinou Pierre a usar sua arte; não mais relatava estórias esdrúxulas, e sim pequenos causos plausíveis de acontecer, porém totalmente fantasiosos.
Chegaram ao morro. De repente, o amo parou, apontando para o chão.
- Vê?
- Onde?
- Aqui! Não está vendo?
- Não.
- Você tem olhos destreinados, Juliet.
Pierre abaixou-se, fingindo apanhar algo com os dedos.
- Olha.
Mostrou os dedos em forma pinça. Não havia nada entre eles!
- Senhor, acho que caiu.
- Como? Não, não caiu. Veja.
E colocou os dedos mais uma vez em frente dos ocelos estrábicos do empregado.
Juliet nada via. Apertou a vista, no entanto não obteve resultado algum. Estaria o homem doido?
- Mas senhor, não há…
- Como você não vê? Está aqui, olha!
Voltando para casa, Pierre insistia em mostrar a pepita imaginária, gabando-se do crescimento que teria a região com sua descoberta. Dizia não querer nada para si, que apenas saber que estava fazendo um bem para sua cidade já o satisfazia; espalharia a notícia. Que venham os mineradores! Enquanto fazia a explanação de seus planos, zombava do pobre Juliet, que ou estaria cego ou louco por afirmar não ver algo que estava diante de si.
O escarnecer do ator sobre o empregado continuou ininterrupto por dias. A insistência dele fez com que Juliet divagasse muito sobre o fato. Não era possível que o patrão tivesse perdido a razão. Tão rico, tão famoso, tão importante quanto era; um homem desses não pode ser demente. “Então serei eu que estou doido?”, pensou. Concordou consigo. Estaria sim maluco, seu senhor estava correto; havia ouro na colina.
Depois disso, começou a examinar atentamente a “pepita” trazida pelo outro a casa. Observando o objeto, achou-o muitíssimo belo, pensou até em roubá-lo…
Vendo a farsa dar certo, Pierre sentiu uma torrente de prazer. Se conseguiu com o subordinado, conseguiria com todos.
No dia seguinte Juliet saiu cedo. Foi visitar um amigo, Remi. Bateu à porta.
- Remi! Abre!
O amigo, com a cara amassada de sono, abriu.
- Que diabo é isso homem? O que foi? Por que essa picareta?
- Tenho uma coisa para contar-te.
- Diz.
- Lá dentro.
Entraram. Juliet contou da descoberta de Pierre. Os olhos de Remi brilharam com a notícia. Apanhou uma pá e subiram juntos a encosta.
Chegando, a cena se repetiu. Juliet mostrava os grânulos de ouro que encontrava por toda parte; Remi chamava-o lunático. O primeiro falava com tal convicção, mofava do companheiro por ele não conseguir enxergar, que o acabou convencendo; começaram ambos o penoso trabalho.
A notícia do enriquecimento de dois antigos pobretões espalhou-se pela cidade. Na verdade, era Pierre quem sustentava sua ascensão, medida que considerava essencial para que o engodo pudesse se firmar.
As pessoas correram com ferramentas em direção ao “ouro”. Estas, quando chegavam, nada conseguiam encontrar.
O povo se reuniu. Achavam que o local onde estaria o precioso metal era escondido pelos dois que ficaram ricos. Com os mesmos instrumentos que usariam para cavar o solo os ameaçaram.
- Mas o ouro está por toda parte lá!
- E como não conseguimos achar?
- Vamos, eu mostro onde tem.
A multidão subiu a quebrada guiada por Remi e Juliet. No lugar previsto por eles, indicavam, apanhando pepitas com os dedos.
A situação deixou a multidão confusa. Estariam doidos os homens? Mas não podia, pois, se estivessem, como teriam ficado ricos? Estariam zombando deles?
Nisso chegou Pierre. Aproximou-se dos guias, pegou um grão da mão de um deles e ergueu, mostrando ao povo.
- Vêem? Olhem quanta riqueza há em nossa terra!
A súbita a firmação do ator perturbou ainda mais a cabeça dos presentes. Que raios estava acontecendo? Os três afirmavam ver, dois deles haviam enriquecido. Tinha que ser verdade.
De repente, as pás, as picaretas e as enxadas começaram a cavar o chão. Todos acreditavam.
O tempo passou e a mineração caminhava a passos rápidos. Uns se tornaram ricos como os primeiros; outros de menos sorte continuavam a trabalhar. Pierre exultava; ele era o Rei, o único Rei da Mentira! Ele via tudo de fora: as pessoas que enriqueciam sem nada possuir, as que choravam por não encontrar o que ninguém encontrava. Esforçavam-se à toa, não havia ouro algum. Mas achavam que havia; o tocavam, brigavam por ele, faziam jóias e ostentavam-nas orgulhosas. Ficaram loucos!
Pierre sentiu um imenso desespero. Transformara todos em lunáticos. Arrependido, decidiu voltar atrás. Encetou a andar pelas ruas contando a verdade.
- Não há ouro?
- Não.
- Maluco!
Foi recolhido ao sanatório municipal, afinal, estava louco…
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