O alistamento
Hão de dizer que sou displicente, já que, intencionalmente, pus de lado os esforços que o mundo exige que eu empregue no Exército. Qual! Não sou descuidado, apenas aborrecem-me sobremaneira aqueles malditos tambores, pratos e o que mais usem as tropas para ofender a Música. Ousaria eu jogar fora todos os anos de educação musical que tive, para marchar como máquina ao som de tal crime contra a arte? Contudo, compreendo que o dever com a nação deve cobrir todos os gostos e entendimentos pessoais, mas não consigo ver beleza alguma nesse sublime sacrifício patriótico. Seria eu estúpido por não conseguir notar isso? Ou não há mesmo, nada para se notar? Pois passam-se os anos, reviram-se as gerações e lá estão eles, com os tambores. Não conhecem o contrabaixo, o violão ou a guitarra? Talvez, se os tivessem, fariam composições novas e mais alegres, e os soldados trocariam o passo forte da marcha pelos saltitos das danças, e seriam felizes, e seriam descontraídos, e seriam, enfim, humanos.
Acho que mudo de idéia; vou ter de salvar algum que reste como ato cívico que me é de obrigação. Levo um berimbau ou um teclado?