O suicida
Abri os olhos e disse: vou morrer!
Afinal, de quê me vale essa vida?
Vida dos calos inchados, das mãos feridas,
Da hipocrisia nossa de todo dia;
Dos sorrisos abertos, dos corações fechados,
Da louca sanidade humana.
Então, de quê me vale?
Se mentiu o poeta dizendo que só havia uma pedra no caminho –
Quem dera…
Talvez tivesse adiantado minha dinamite.
Talvez não tivessem morrido meus sonhos.
Talvez não tivesse ombros caídos.
Deixo um inferno para ir a outro,
(Que estejam errados os teólogos!)
Vou indo tranqüilo…
Lá, o ódio é ódio,
Sem as lindas máscaras de teus olhos,
Amiga vida.
Lá não vou precisar engolir o escarro de minhas palavras;
Hei de cuspi-lo todo na face dos que me odeiam!
E, se mesmo assim, me acolher o Senhor em sua morada,
Não deixarei de cuspi-lo,
Não guardarei essa mágoa.
Se for real meu desejo,
Que os vermes comam o que de orgânico houver podre,
Já que o mais pútrido não conseguem roer.
Entrego-me em teus braços, morte, amante minha;
Tira a roupa, vamos acabar logo com isso!
À vida digo aquele não sentido.
Adeus semimorte!
Adeus calos!
Adeus, amores sonhados e não vividos!