- Devolva o poema, birrava o poeta chorão; é meu, é meu.
- Deixa de ser besta! O poema é de todos, atalhou o poeta sádico que roubara a poesia.
- Pára com isso, dê o verso a ele; ele tem direito, falou o aedo libertário.
- Que dizes tolo? Não és libertário? O clássico interrompeu a defesa.
O libertário curvou-se arrependido com o direito delegado ao chorão, mas não deixou de retorquir:
- Não é certo atormentar os outros, disse cravando os olhos flamejantes no sádico. Se ele não quer entregar, então não pegue. Você não precisa dele.
O bico do vate chorão aumentava.
- Me dá, me dá!
Enquanto isso o clássico ria fidalgo, por prazer da perversidade de um e do egoísmo do outro.
- Escreve outro, rapaz; tentou consolá-lo o libertário.
- Não quero.
O sádico segurou o impasse até cansar-se do divertimento cruel:
- Toma, ergueu o braço entregando as letras ao chorão.
- Não quero mais.
O libertário puxou os cabelos de agonia e o poeta clássico tragou malicioso o conhaque que segurava em uma das mãos.