Os dois caminhavam pela rua sentindo a brisa no rosto, os pássaros, os sons, a coisa toda da pulsão do mundo. Esbarraram-se. As cabeças que fitavam chão e céu num baixa e levanta aleatório (pelo que se sabe), trancaram-se frente a frente para cravar os olhos no outro obstáculo.
- Me desculpe, Seu…
- Perdão, Dona…
As bocas calaram dos ditos simultâneos. Seu… Dona… Os nomes estavam pendurados na ponta da língua, vacilando perto do abismo da comunicação, esperando pelo empurrão final. Tinham certeza de conhecer os nomes; mas não vinham.
- Te conheço.
- Eu também te conheço.
Silêncio. Tentavam decifrar-se.
Um homem passou rápido do lado dos dois. A Dona distraiu-se e… aquele homem era conhecido também! Era o… o … Passeou com os olhos buscando lembrar e reviu o primeiro desconhecido/conhecido. Mais distante o Homem apressado olhou para trás num instante, como se reconhecesse alguém. A interrogação esvaneceu tão rápido quanto seus passos e foi-se embora que tinha mais o que fazer.
Seu… ainda segurava o olhar e o impasse quando Dona… voltou a ele. Ser visto na contemplação em que estava embaraçou-o.
- Me desculpe então, Dona…
A garganta travou e a palavra picou a língua. Ele baixou a cabeça num aceno que na verdade era um escorão no vocábulo, para descê-lo goela abaixo. Prosseguiu andando. A vergonha dos dias de hipocrisia, os dias cotidianos, não perturbou; só aquela pulgazinha do saber pulava dentro da cabeça. Sabia quem era ela. Ficou feliz.
Sentiu uma nova trombada.
- Oh, me desculpe Seu Osório!